domingo, 30 de novembro de 2008

Pequena ode à chuva





Como a luz a cor
e a cor o verde
e o verde a fartura
de brilho e gordura
no dorso das crias
abres a palavra
quando vens - rainha.

Como o sopro o som
abres-me os caminhos.

Dura agora a luz
vazante dos tempos
que razam propícios
os pastos exaustos.

Caudais vão fundir-se
refazer torrentes
até que regresses
à bruma das serras

e eu refaça os vaus
da sede e da espera.

Ruy Duarte de Carvalho, "Ordem do Esquecimento", Quetzal Editores, 1997

(imagem daqui. linda. obrigado pelo 'empréstimo'!)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

"Let them be like us!"...



"Tony Melendez plays 'Let It Be' on South Padre Island"

recebido por mail com a indicação: "a melhor interpretação de "let it be" que ouvi até hoje". discordo levemente... não é a melhor interpretação daquela música: é um solo de Vida, uma interpretação de Esperança, uma melodia de Persistência e de Inconformismo. um dedilhado sobre as nossas tantas capacidades desaproveitadas, um não olhar para o lado e pelo contrário erguer a voz. entoo este coro.

coisas capilo-culinárias



hoje fui ao "baeta". como flagelação pelo assassinato capilar imposto pela ditadura familiar estou a fazer o jantar. a correr tão mal como é previsível julgo que estou safo de "baetas" durante tantos meses como aqueles que a janta d'hoje perdurará na memória. amén...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

o cair da folha


o prometido é sempre devido.

entaramelo a voz. aqui. não sou escritor, não consigo abrir mais o peito sem que me doa insuportavelmente. talvez um dia o consiga. até lá atafulho-me de metáforas e comprimidos, faço do blogue um concerto de remédios de auto-ajuda. faz-me falta ter com quem falar. o Carnegie dos vinte anos é igual à Rhoda Byrne dos cinquenta: nada me dizem e menos me ajudam. a ficção que leio ilude-me, apaga-me até adormecer. mas depois acordo e tudo recomeça, e as caixas de comprimidos estão quase vazias. a escrita? até ela é moribunda incluindo "a secreta". gosto do Outono, os passeios com um tapete de folhas que descaem para olhá-las e aceitar a perenidade de tudo. piso-as com respeito pelo conforto qu'o seu gesto nobre suaviza o palmilhar o quarteirão donde não saio senão com algemas. tenho os remédios quase esgotados, valha-me o Youtube. pus o "You are a Lucky Man" e fui a correr barbear-me. melhorou. pelo menos melhorou perante O Outro, qu'eu passei água pelos restos de sabão e os olhos estavam iguais. os olhos não se barbeiam. sorriem ou choram pois não consigo imunizá-los e acinzentá-los na indiferença. sinto que perdi mais que ganhei. ganhei tal como em criança enchia os maõs de areia mas hoje, barba feita, não olho da mesma forma o grãoes que fogem entre os dedos. perdi. Princesas, castelos, sonhos, até eu príncipe. fica o Outono. abençoado tapete que, caia a gasta analogia, suaviza e conforta o pisar quando visito o meu Jardim, secreto como todos os jardins são para alguéns. e calo-me. está aí o Outono, calo-me, faço a barba, tomo o resto dos comprimidos e vejo Youtubes incluindo os de mim.
(imagem daqui. obrigado por mais estas para pisá-las e suavizar-me)

Zyprexa, 10 mg

Wellbutrin, 300 mg

terça-feira, 25 de novembro de 2008

diz-me, espelho meu...




odiar o nosso blogue é odiar-nos? porquê aqui não 'falo' e lá fora sou um papagaio?

(imagem colhida aqui. thanks)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

open space



As caixas de comentários estão novamente abertas.

Desejando não ser visto como 'descortês" não prometo responder rigorosamente a todos os comentários que lá forem amavelmente colocados. Como explico vai para cinco anos eu 'não me sinto à vontade' nas minhas próprias caixas de comentários: é Vosso território, não meu...

Isto é um 'tasco' e não uma recepção em palácio com beija-mão e salamaqueques à entrada e saída. Não levem a mal, mas é o que sinto e como 'o' olho.

(imagem daqui. gracias)

consolos blogueiros - II

Artº 1
"todo o homem tem o direito de se tornar humano e de ser tratado como tal"
Arº 2
"todo o ser humano tem direito à vida"
Artº 3
"todo o ser humano tem direito à independência"
Artº 4
"todo o ser humano tem direito ao saber"
Artº 5
"todo o ser humano tem direito à felicidade"
Artº 6
"todo o ser humano tem direito à livre disposição do seu tempo"
Artº 7
"todo o ser humano tem o direito de se deslocar para onde e como entender"
Artº 8
"todo o ser humano tem direito à gratuidade dos bens úteis à vida"
" 8a
"todo o ser humano tem o direito de dispor de uma habitação conforme os seus desejos"
" 8b
"todo o ser humano tem direito a uma alimentação saudável e natural"
" 8c
"todo o ser humano tem direito à saúde"
" 8d
"todo o ser humano tem direito à gratuidade dos modos de transporte criados pela colectividade e para a colectividade"
" 8f
"todo o ser humano tem o direito de usufruir gratuitamente dos recursos e das energias naturais"
Artº 9
"todo o ser humano tem o direito de xerecr um controlo permanente sobre a experimentação científica a fim de ter a certeza de que esta serve o humano e não a mercadoria"
Artº 10
"todo o ser humano tem o direito de desfrutar de si, dos outros e do mundo"
" 10a1
"todo o ser humano tem direito à aliança consigo mesmo"
" 10a2
"todo o ser humano tem o direito de ser ele mesmo e de cultivar a consciência dasua singularidade"
" 10a3
"todo o ser humano tem direito à autenticidade"
" 10b1
"todo o ser humano tem direito à aliança com os seus semelhantes"
" 10b2
"todos os seres humanos têm o direito de se agruparem por afinidades"
" 10b3
"todo o ser humano tem o direito de substituir os governoas estatais por uma federação mundial de pequenas colectividades locais em que a qualidade dos indivíduos garanta a humanidade das sociedades"
" 10c
"todo o ser humano tem direito à aliança com a natureza"
" 10d
"todo o ser humano tem direito de se reconciliar com a sua parte de animalidade"
Artº 11
"todo o ser humano tem o direito de construi o seu próprio destino"
Artº 12
"todo o ser humano tem o direito de criar e de se criar"
Artº 13
"todo o ser humano tem o direito de ingerência e de intervenção onde quer que seja que o progersso do humano esteja ameaçado"
Artº 14
"todo o ser humano tem o direito de virar para a vida o que se voltu para a morte"
Artº 15
"todo o ser humano tem o direito de melhorar o seu ambiente para aí viver melhor"
Artº 16
"todo o ser humano tem direito ao respeito devido à sua sensibilidade"
Artº 17
"todo o ser humano tem o direito de experimentar os movimentos de afecto e de rejeição inerentes"
Artº 18
"todo o ser humano tem direito a uma vida e morte naturais"
Artº 19
"todo o ser humano tem o direito de fundar a diversidade dos seus desejos na pluralidade da vida"
Artº 20
"todo o ser humano tem o direito de se dedicar à actividade e ao repouso"
Artº 21
"todo o ser humano tem direito à preguiça"
Artº 22
"todo o ser humano tem direito ao esforço e à perseverança"
Artº 23
"todo o ser humano tem direito ao seu sentimento natural da beleza"
Artº 24
"todo o ser humano tem o direito de progredir e de regredir"
Artº 25
"todo o ser humano tem o direito de errar, de se perder e de se encontrar"
Artº 26
"todo o ser humano tem o direito de vencer o terror e de domar o medo"
Artº 27
"todo o ser humano tem o direito de recusar a ameaça"
Artº 28
"todo o ser humano tem direito ao erro e à sua correcção"
Artº 29
"todo o ser humano tem direito a uma absoluta liberdade de opinião e de expressão"
Artº 30
"todo o ser humano tem o direito de criticar e de contradizer aquilo que parece mais certo ou que é tido por uma verdade elementar"
Artº 31
"todo o ser humano tem o direito de não considerar nada sagrado"
Artº 32
"todo o ser humano tem direito à mudança"
Artº 33
"todo o ser humano tem direit ao distanciamento"
Artº 34
"todo o ser humano tem direit aos prazeres de cada idade"
Artº 35
"todo o ser humano tem o direito de recusar o sofrimento"
Artº 36
"todo o ser humano tem direito de dar e de se dar sem se sacrificar"
Artº 37
"todo o ser humano tem o direito de escapar à frustação substituindo a insatisfação pelo insaciável"
Artº 38
"todo o ser humano tem direito às suas dúvidas e às suas certezas"
Artº 39
"todo o ser humano tem direito ao excesso e à moderação"
Artº 40
"todo o ser humano tem o direito de se divertir"
Artº 41
"todo o ser humano tem direito às liberdades do sonho e da imaginação"
Artº 42
"todo o ser humano tem direito à cólera"
Artº 43
"todo o ser humano tem direito ao bem-estar do corpo"
Artº 44
"todo o ser humano tem o direito de se adornar como entender"
Artº 45
"todo o ser humano tem direito às suas mentiras e às suas verdades"
Artº 46
"todo o ser humano tem o direito de se abrir ou de se fechar ao mundo"
Artº 47
"todo o ser humano tem o direito de se exprimir ou de calar as suas emoções, os seus desejos, os seus pensamentos"
Artº 48
"todo o ser humano tem o direito de ter acesso à expressão artística"
Artº 49
"todo o ser humano tem direit ao livre exercício da bondade"
Artº 50
"todo o ser humano tem direito à inocência"
Artº 51
"todo o ser humano tem o direito de apostar na violência do vivente para fazer face às violências da morte"
Artº 52
"todo o ser humano tem o direito de devlver à vontade de viver a energia vital usurpada pela vontade de poder"
Artº 53
"todo o ser humano tem o direito de proteger e ser protegido"
Artº 54
"todo o ser humano tem o direito de gerar crianças para sua felicidade e para felicidade destas"
Artº 55
"todo o ser humano tem o direito de desejar o que parece estar para além do possível"
Artº 56
"todo o ser humano tem o direito de gerir os seus humores, caprichos e manias sem ter de os impor aos outros nem ter de suportar os dos seus semelhantes"
Artº 57
"todo o ser humano tem direito à poesia da existência"
Artº 58
""todo o ser humano tem direito ao jogo e a brincar com os comportamentos e os valores do velho mundo"


(não-sublinhados meus)


Raoul Vaneigem, "Declaração Universal dos Direitos do Ser Humano", Edições Antígona, 2003


(imagem de 'multidão' daqui.. thanks e perdoem lá o gamanço...)

consolos blogueiros



A IMAGEM NO ESPELHO

"Aos 20 anos escreveu as suas memórias. Daí por diante é que começou a viver. Jutificava-se:
- Se eu deixar para escrever minhas memórias quando tiver 70 anos, vou esquecer muita coisa e mentir demais. Redingindo-as logo de saída, serão mas fiés e terão a graça das coisas verdes.
O que viveu depois disto não foi precisamente o que constava no livro, embora ele se esforçasse por viver o contado, não recuando mesmo diante de coisas desabonadoras. Mas os fatos nem sempre correspondiam ao texto e, para ser franco, direi que muitas vezes o contradiziam.
Querendo ser honesto, pensou em retificar as memórias à proporção que a vida as contrariava. Mas isto seria falsificação do que honestamente pretendera (ou imaginara) devesse ser a sua vida. Ele não tinha fantasiado coisa nenhuma. Pusera no papel o que lhe parecia próprio de acontecer. Se não tivese acontecido, era certamente traição da vida, não dele.
Em paz com a consciência, ignorou a versão do real, oposta ao real prefigurado. Seu livro foi adotado nos colégios, e todos reconheceram que aquele livro era o único livro de memórias totalmente verdadeiro. Os espelhos não mentem.

Carlos Drummond de Andrade, "Histórias para o Rei", Editora Record (Rio de Janeiro - São Paulo), 2006

(reflexo duma parede daqui. thanks)

prova de vida


Não fui baptizado "Lázaro" nem alguma vez nas onomatopeias das sms se me dirigiram como "JC". Cruzes-credo, só se fosse pela ópera-rock. E não mordo e gosto de alho. Vagueio e preencho formulários. Hoje vim a este guichet preencher o de 'prova de vida'. Tenho escrito. À lareira das brasas do sol novembril, manias de acreditar que o reerguer tem de ser rápido e diurno. Coisas de mim que ficam para mim.
À pouco escrevi assim - num e-mail, mas leia-se 'lareira' - e fica o formulário preenchido:

"(...) faço exclusivamente o que gosto, claro que também o que posso. poesia isto. se o Martinho da Arcádia fosse um ciber-café o contabilista não escrevia sobre "a mentira dos poetas", falava dos bloggers. é tudo a mesma merda, a merda humana. este fedor não devemos receá-lo: é o cheiro da humanidade, o nosso cio pela escrita, o nosso cio de nós mesmos. e viva o onanismo à lareira, um teclado de piano sorrindo-nos. (..) tenho um gato virtual. chama-se 'Pitágoras' porque sempre pensei que se um dia tivesse um gato era esse o nome que lhe daria. foi logo crismado de 'Pitas', saberão as deusas e seus colegas dos porquês de tudo ter um diminuitivo. deita-se ao borralho ao meu lado. sabes como os gatos olham, hipnóticos. acho que ele está a gozar comigo mas enfim. é o 'Pitas', que fazer? pergunta velha. velha edição de materialismo dialéctico com tanta tradução e de respostas népia. vai daí carrega-se no tinteiro e enrolam-se canudinhos. (...) é impossível parar. repito-te que escrevo que me desunho. e algumas belas, ouso dizê-lo. nada como os trambolhões para a malta se reerguer. aí, sei lá como, encontra-se uma ternura impensável. mãos que nos guiam a mão. e faço poesia, assim minúscula mas... bela para mim que só eu a leio. que quero mais? acabei de estrelar dois ovos e manjá-los. que quero mais? (...) e esta noite revi pela quinquajésima vez "As pontes de Madison County", a aldeia mais populosa do mundo pois tem milhões de residentes não recenseados. vagueio. fumo. não me perguntes pelo Multiply que não ligo pívia àquilo. multiplico-me sozinho - como sempre. (...) acho que vou fazer uma pequena 'prova de vida' no on the road e aguardar mais um pouco. não conto morrer nem amanhã nem depois de amanhã. a decisão do novo blogue surgirá 'naturalmente', e nisso e em nadica da minha vida não quero nunca mais sentir pressão. faço o que gosto, escrevo quando gosto e do que gosto. (...) preciso de me sentir livre."


Está feita. Papelada despachada e guichet seguinte.


(a foto da tumba aberta veio daqui. thanks ao morto mesmo se morto-vivo, seus familiares e ao guarda do cemitério que assobiou para o lado. sem vocês isto eram só letras. letras, letras, e a lareira ardendo à espera de mim)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

fim de viagem


Esta estrada chegou ao fim. Não é demolida pois teve troços de bom piso. Tal como o 'blogger': nem tudo é ruim.
Quem me conheçe e queira encontrar-me sabe como fazê-lo. Tal como eu farei.
Obrigado a todos.

cg

(a última imagem "on the road" veio gamada daqui. obrigado também praí)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

(...)





Este blogue fecha para obras por 48 horas. No mínimo.
Obrigado pela atenção.


(bonequito daqui. thanks)

A Crise (XV): um olhar global

Bem perguntado.

memórias de mim & dos meus filmes





Verão de '42

flores


Bonitas. Se fosse príncipe e tivesse um castelo como em todas as estórias os príncipes têm, floria-o. Azuis, brancas, amarelas, vermelhas. No arco-íris escondia as gelhas das pedras e tornava fácil escalar-lhe as muralhas. Toda a paisagem agradecia, creio, florida, creio ainda mais.


(gamadas aqui, "um qualquer jardim e-perto de si", ao Google acaso)


Não. Desta vez não está(s) certo. O mundo não pode ser assim (se o é é nossa obrigação não perpetuar o erro e tornar episódica a episódica razão)

(imagem daqui. thanks)

Miriam Makeba "Mamã África"



A notícia má do dia. Trinta anos de vida cantados longe de casa e a sua Voz soou sempre contra essa dor, essa injustiça com nome e que durou anos demais, bem mais de trinta. E ajudou; tanto que regressou a casa. Cantando, cantando sempre.
Esta noite partiu. Longe de casa? não, acho. Era Cidadã do Mundo inteiro embora ele que a ouvia a chamasse de "Mamã África".


(foto daqui. vénia em momento triste)

sábado, 8 de novembro de 2008

a despedida



Imagem do meu "jantar de despedida" :( de Moçambique. Janeiro de 1976, restaurante do Hotel Girassol. Alguns de muitos amigos. A despedida "freak" ou foi antes ou depois, já não me recordo excepto que foi no Bilene no que chamei "fim-de-semana psicadélico" e algures neste ou noutro blogue (um dos "Xicuembos"?) fiz um post onde o recordei, salvo erro sob título "o capacete amarelo". Mas estou sem pachorra para ir à procura dele e linká-lo. Só vos digo que... foi naturalmente mais 'exótica' :)))

Peço a especial atenção dos senhores ouvintes e telespectadores para o papelito que tenho na mão e a Becas a dizer-me (imagino agora, mas terá sido mais ou menos assim): «Carlos, não te atrevas aqui!!!»;)

"teenager translator"



A Webita anda empenhada na legendagem de Youtube's de séries de tv que gosta, ou daquela coisa de vampiros-galãs que dá pelo nome de "Twilight"* e me arrepia ao imaginar-me no papel de papai-a-dar-uma-de-durão quando um mangussito se atrever a meter o pé cá em casa e, na volta, tem um serrote afiado demais qu'o meu e exibe-me os caninos XL como quem diz: "vai dar uma curva, velhote!"

Podem visualizar-se aqui. Clicar em "see all videos" pois, diz ela, como são arquivados em prioridade aos mais recentes e esses não serão os mais 'apreciáveis' por públicos... menos "teenagers" :) os outros estão lá para trás.

* via Amazon leu a saga em primeira mão, antes de cá traduzida e editada. vocês acreditam que aquela alminha teve paciência para traduzir para português um daqueles calhamaços de fio a pavio? bem, duas coisas boas: praticou o seu "inglês" e beneficiaram os colegas também fãs da série que, capítulo a capítulo e conforme a tradução ia avançando foram também lendo-o em português antes da edição 'oficial' :))


(imagem daqui. thanks pelo empréstimo)

epistolar geracional: as manhãs longas da rádio comercial




" (...) Se o nome do programa não era ou é assim, era ou é parecido. Veio-me à tola pelas manhãs. Rádio só ouço no carro. Rádio só ouço quando não tenho um título e veio este como podia ser amêijoas ou este bzzz que se vai perdendo na névoa da manhã - vera: às oito estava nevoeiro e agora subsiste aquele céu pardo sem azul, nem abre nem deixa abrir. As nuvens, farripas brancas, são dunas do céu mas ausentes de sol pois o céu não está azul e nele elas são um cortinado branco. O "bzz" era uma irritante avioneta que já fugiu. Levou o megafone publicitário que passou aqui perto e, embora sejam onze e meia da manhã e fora residuais sornas não acordou ninguém, soou-me tão chato como nos domingos de manhã os doidos dos grupos dinamizadores acordavam o people de madrugada para irmos dar uma de escravo-proletário e revolucionariamente varrerem-se os passeios no dia de folga dos 'almeidas'. Tontos. Tontos todos, que nem a sorna histórica se curtia sem ou o megafone ou a consciência nos arreliar. O marxismo-freakismo* tinha destas contradições: pureza ideológica nas leituras e vivas incendiados, praxis bem curtida nas longas manhãs da rádio comercial cerrando ouvidos a bzzs parolos e a mão tacteando a mesa-de-cabeceira à procura da beata do último charro da madrugada.

«To yendi pa Mozi, Ni M’tima umô! To yendi pa Mozi, Ni M’tima umô! Olimbá – olimbá moîo! To yendi pa Mozi, Ni M’tima umô!».

Não, o título está errado mas não vou modificá-lo. Sabes porquê, não sabes? cá não tiveram grupos dinamizadores pois conheci os “gdups” do Otelo e não tocavam às campainhas, menos ainda berravam megafones nos domingos de manhã estivesse o céu como estivesse. Mas as vassouras ideológicas eram iguais, cá mais diversificadas hertzeneanamente e não duvido cagajésima em como uma rádio comercial qualquer estava sempre sintonizada em azucrinar os miolos aos sornas dos domingos de manhã. Ao marxismo-freakismo que mesmo no nevoeiro das ressacas guiava a mão à tal beata e flash!: quanto vestíamos a farda nos nossos corpos nus e então ainda 'esbeltos' (quéessamerda? existem mentiras assim tão... esbeltas? :( , bem, quando enfiávamos o "cafetan" pela cabeça, apertávamos as jeans e calçávamos as sandálias já o colar ou a pulseira de missangas fora posto, resistente marco colorido cravado no cinzento revolucionário. E, assim, se ia construindo o marxismo-freakismo passo a passo até à derrota final. D'ambos: já agora gozo o meu momento mordaz do dia. (..)"


* o baptismo não é meu e sei de que tasco veio. não linko. não vale a pena. gostei tanto dele, senti-me tão identificado na justaposição tanto como sei que "eles andam aí": mais haverá - há. há que eu sei - que sentem o mesmo por ela e daí a linkagem estender-se-ia como urze numa colina bravia. se os bancos falidos são nacionalizados também as memórias das ideologias igualmente comatosas podem sê-las. e quem não gostar... vá-se "queixar ao Totta" - 'lol' acidental e circunstancial.


“charlie”




(imagem do brazão moçambicano pescada aqui. gostei de revê-lo. daí que cai que nem ginjas e gamei-o. thanks. na outra tou eu a passear a Becas no lago do Zambi, LM, em 1975. a Becas era a minha 'chefe' no job :) e o que tenho na boca muito provavelmente "é" ;)

Acid Queen



por Tina Turner e os The Who, em "Tommy".



"Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis."


de Drummond de Andrade em 'Claro Enigma'

:(

não consigo meter videos do Youtube. no Copy só 'saca' a parte visível do "embed"...
alguma ideia?



ps de final de manhã: o 'pc alentejano' hoje acordou bem disposto. já deixa... :)
thanks a quem telefonou dando dicas. infrutíferas pois não é azelhice minha como seria provável: é mesmo "ele" que... 'tem dias'... ;)

ehehehe! que piadão!




um vómito. chamar-lhe de peido é pouco.

(imagem do bolsado daqui. desculpem pela imagem mas acreditem que o que se lê na outra tem pior fedor)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

obituário


Há um ano e picos falei dele. Ontem à noite, noite de insónia voluntária, soube da morte do autor. Michael Crichton. Um mestre do thriller, muitos dizem-no criador do techno-thriller. Um dos meus autores de culto no género pois irreverente e mesmo nada 'políticamente correcto' - nojo; bolso quando leio dessas merdas - obriga o leitor a pensar. Parece fácil mas... não, não é quando põe em cheque "verdades incontestáveis". E já cá ando há cinquenta e tal anos: é dose desse saco.
Hoje o Sorumbático recordou-mo via post de Carlos Medina Ribeiro onde a propósito do óbito do Autor a obra "Estado de Pânico" é puxada ao topo das recordações. Por má hora mas simultâneamente em boa. Este deixou legado muito além dos dinossáurios.

(imagem do site linkado em "Estado de pânico". vénia)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Selo Dardos




Como digo em post-scriptum ao post anterior há gente boa demais. Felizmente muita: a Internet é igual ao Mundo.
Dois deram-me o selo aí ao lado. Além da gratidão fiquei à rasca. Eu conto.

Segundo percebi - não consegui descobrir a nascente, mas fio-me que a corrente de transmissão tenha percorrido os elos oleada - o Prémio Dardos destina-se a "(...) reconhecer «os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras». Depois vêm as interpretações pessoais, os ajustes que cada entende ser de justiça fazer para a prendinha recebida sair das suas mãos com a embalagem certa e... acertar em cheio nos seus alvos. E não fiquei insensível à argumentação da Catarina: «porque é que lemos os blogues que lemos?» - interroga-se. E afirma e eu subscrevo que para além da qualidade informativa, literária, etc & tal, um amigo lê sempre um amigo e na amizade não há lugar para outro critério.

Andei a remoer isto dias, mais duma semana. Tempo demais, até porque em dias, uma semana, muito se lê e muito se passa sendo que com tal interrogação em mente nesse hiato não pude esquivar-me a ler-vos sempre com a luzinha do "prémio" a bailar, a considerar «e este?» É que eu leio muitos blogues: a lista "Blog-espeitadelas" lá em baixo é gigante (clicar em 'mostrar todos') e se nem todos são visita diária há blogues que visito mesmo quando tão defuntos que nem em dia de finados recebem um ramo murcho. O Meu Pipi acabou está a fazer cinco anos e até comprei o livro mas está lá na lista: raramente, muito raramente mas abro um arquivo ao calhas e releio o que já esquecera, então pusera-me bem disposto e em regra o sorriso volta a nascer.

Tenho mais 'defuntos' na lista e lamento especialmente um, recém-"falecido": apagou (ocultou?) os arquivos e isso caiu-me pior que parar o blogue. Senti-o como se um arquivo histórico duma época fosse extraditado para uma ilha inacessível, o acervo duma memória que tornada pública torna-se dalguma forma também memória de quem a acompanhou fosse vendida em leilão a um coleccionador que a fecha a sete-chaves e, egoísta, priva os anteriores usuários/leitores de continuar a... lê-la, revivê-la. Não gostei, confesso. Mas isso não lhe retira o link-elo da minha lista de "Favoritos". Mesmo que lá voltando leia o ilegível, o olhar o visual do blogue arrasta memórias e essas não se apagam (sei que soa a memorial fúnebre com travo amargo, mas tá dito pois estava-me atravessado).

Em resumo e para abreviar o cerimonial 'dardejante' os meus 15 eleitos são os 15, ou 5, ou 35 ou 55, que leia naquele dia concreto. Porque visito-os quer pelos critérios formulados inicialmente, blá-blá isto mais blá-blá aquilo, mas também pelas razões da Catarina Campos: a amizade não usa critérios daqueles, senão nós não tínhamos amigos.

Fora os 'cagões', tá claro - e eu leio alguns, estão lá na lista. Porquê? porque embora 'cagões' de feitio, esses, se cumprisse à risca a selecção conforme a premissa original dois ou três estariam nos '15' premiados: eu também já fui 'cagão' quanto ao que escrevia e não é por ter-me esforçado em expurgar esse feitio purolento que, acho, a minha escrita piorou ou melhorou - expressão lata: eu, o gajo blogger, é que me melhorei. E aqueles que ainda não puseram uma caixa de batatas em frente ao espelho para se alçarem de forma a mirarem-se bem não é por aí que seja em fogachos ou em jorro contínuo escrevem menos 'bem' e ajuízam mal do dia-a-dia. Além de que pode ser já amanhã que irão à cozinha buscá-la, tal como eu fiz.

A lista completa consulta-se aqui, lá em baixo: "Blog-espreitadelas" + mostrar todos.
É sempre provisória: sei que há blogues que descobrirei e acrescenta-los-ei com gosto. E visita-los-ei dardejante, tá claro.

adenda de dia 8: a Ana do 'Digital no Índico' também me dardejou. este "Dardo" é especial. lá conto porquê.

"on the road again", a música



Ouvem uma música de fundo? é esta. Novidades tecnológicas que nunca estiveram - e acredito que nunca estarão - ao meu alcance aplicá-las sozinho cá no tasco. Ajudou-me uma "engenheira": gracias 'Storm'! ;)

Quem não gostar, ou da música-tema ou preferir-lhe o silêncio, na coluna lateral direita tem os botões para controle da grafonola... (logo acima da minha fotografia)


ps: ... e relendo os comentários do post linkado vem-me mais uma vez à memória do "por fazer" que recebi dois "Dardos" a que ainda não dei reenvio - mas agradeci-os nas casas próprias, aqui e aqui, da Conceição e do Zé Paulo. Penso que não passará d'hoje. Provavelmente esta noite pois agora a web-vida é ligeiramente diferente. E até acho que estou a complicar: a lista de há muito que está feita: os critérios-base é que me têm estado a baralhar pois não coincidem com aqueles em que me revejo ao elaborar uma lista de meus "blogues favoritos".

(imagem do bicharoco gamada aqui. thanks :)

a dura realidade



Ok. Ganhou o Obama. Estou contente. Mas fiquei triste ao ler isto: é verdade. Di-lo ele e dizem-no todos que conhecem a realidade. A puta da realidade.

Ok, viva à eleição de Obama. Inegável. Felizmente, pois a alternativa (muito principalmente a vice-alternativa) eram inconcebíveis se se quer andar para a frente sem necessariamente isso significar que para fazê-lo tem de se pisar os Outros.

Pena é o que li. Mesmo já sabendo-o hoje a realidade doeu especialmente.



(imagem daqui. vénia)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

sitemeter


Mais ou menos recentemente instalei cá no tasco um "sitemeter". Um pouco de cusquice, quem vem e o que lê, que dos números estou tão bem como gosto, obrigado.


E tê-lo é espreitá-lo. Ora volta não volta vejo "o processo" consultado, folheado, e-mailado, exibido como libelo em formato de caixa de comentários.
São leituras possíveis, nada de novo. Eu habituei-me a acreditar nas pessoas. E quando tenho dúvidas do que leio e isso me é possível pergunto ao Autor qual o significado, o porquê duma frase, um capítulo inteiro ou um pensamento condensado, um gesto entre personagens que parece desgarrado do enredo.
Sempre que o fiz o Autor respondeu. O leitor, eu, fico em regra esclarecido: afinal aquele livro não é meu de letra escrita e há tantos mundos no mundo como há escritores mal amanhados de densos que não se interpretam tão linearmente como as páginas, digo, o 'sitemeter', conta.
Claro: também tem de haver boa-fé do leitor. Eu também não acredito em tudo que leio e nem sempre as explicações recebidas me satisfazem.

Tinha de dizê-lo pois embora seja livro arrumado estou sitemeter-farto. Há coisas que mais valia nem saber delas. Mas é a farra da Humanidade, e eu de Santo também nem auréola nem as asinhas.

Vou ao café ler o "Correio da Manhã", é mais saudável.

pessimismo vs optimismo




Não sei bem o que ele quis dizer mas li-o à minha medida.
Hoje. Pois, hoje.


(imagem gentilmente retirada daqui. vénia)

calma... calma, que tudo e todos... passam!


(video encontrado aqui. thanks, batráquio.)

"Arquivem-se os autos"


Tem balança de dois pratos, olhos vendados e uma espada na mão.
É justo que ambos os pratos levem toda a carga que lhes pertence. E a venda simboliza a isenção. A espada? castiga o pecador. (o mais pecador?)


O pormenor dissonante são os erros judiciários. Pese o sossego qu'a venda trás à consciência e o direito de sentença em mergulhar a espada onde, a fls. tantas dos autos, se sabe por declarações das partes onde dói mais ao perdedor, digo, ao julgado pecador.

É Humana a Justiça, ponto final.

(imagem daqui. como sempre, grato. embora Hoje dolorosamente grato.)

domingo, 2 de novembro de 2008

Julga-me a gente toda por perdido



Julga-me a gente toda por perdido,
Vendo-me tão entregue a meu cuidado,
Andar sempre dos homens apartado
E dos tratos humanos esquecido.

Mas eu, que tenho o mundo conhecido,
E quase que sobre ele ando dobrado,
Tenho por baixo, rústico, enganado
Quem não é com meu mal engrandecido.

Vá revolvendo a terra, o mar e o vento,
Busque riquezas, honras a outra gente,
Vencendo ferro, fogo, frio e calma;

Que eu só em humilde estado me contento
De trazer esculpido eternamente
Vosso fermoso gesto dentro na alma.

Luis Vaz de Camões

(imagem e poema gamados aqui. grato, e também a quem me mandou o link)

o regresso do PREC




coisa gira....

Não me apetece ir à procura dos links. Mas que fui bruxo, ai fui fui.

Magic!



Há músicas que... têm letras que parecem escritas por deuses.

sábado, 1 de novembro de 2008




modernices...

R.I.P. lamentados



O Ma-schamba também foi para Marte. Um mau feeling diz-me que desta vez é "a sério" embora me console que, lá, estará em boa companhia e muito cavaquearão.

É (era?) o meu blogue preferido. Sei lá se exagero, pois sou tão emocional que caio facilmente no superlativo. Mas tenho em mim - e desde que o conheço, blogue, já há uns bons anitos - que o 'jpt' com o seu machambar constante fez mais pela divulgação da cultura moçambicana no exterior que qualquer ministério ou secretaria de estado específicos que lá existam. É dos tais que merecia pela diferença, degraus acima.

Vai ser difícil encontrar "substituto". Mas da vida dele sabe ele e, facto, o blogue é território de soberania absolutista de cada um, eutanásia incluída no pacote. Espero que o Ma-Blog continue assim como os apêndices Sem Estrada e Estendal. O primeiro pelo "serviço público" e os outros para amenizarem a sede de lê-lo.

Resta a esperança da histórica ineficácia dos anti-vírus.

(foto do local de refúgio do marciano gamada do diário de bordo do próprio)

Uso avulso é abuso

Começo a estar farto de ouvir falar constantemente em sexo. Incluindo-me.
Mau sinal? acho que não. Apenas não depreciá-lo pelo abuso. É que... ele é Magic! se não for tipo cheeseburger.