quarta-feira, 11 de agosto de 2010

um 10 de Agosto especial

Sabendo-me contra marés, acredito na remição humana. Na força do arrependimento, na dor profiláctica do remorso, na sapiência de por vezes calarmo-nos e olharmos o passado sem filtros, reconhecendo que aqui e ali não estivemos bem, pelo contrário estivemos mal e, pudéssemos, tal e tal não aconteceria.

Como se percebe sou atormentado pela excessiva ligeireza do passado, ansioso por perdões, borracha, borracha, jelhas da vida que doem mais que no meu espelho quando vistas a quem não as merece. Tenho uma colecção desses olhares, núcleo duro dos meus sentimentos e do meu incómodo: mãe, mulher e filhos, e poucos mais alguéns. Estes doem-me mesmo, olhando cada um sinto que me deveria ter esforçado mais.

Hoje a Carla faz tlin-tlin à idade mágica dos dezoito anos. Tão jovem e a minha menina como sempre foi, tão adulta e minha consciência como já há tanto o é. Meu medo, também: dizem-na minha fotocópia. Agrada-me, e tento esquecer as razões porque me deveria entristecer por ela, se é assim. Talvez estes meus arrependimentos tardios a salvem das partes más da cópia, e não evito sorrisos pouco secretos quando detecto algum dito ou pormenor e dele faço prova em como realmente há nela pedaços de mim, meus gostos, a forma extrema de viver os sentimentos, até tiques em coisas de nada, nadas gigantes quando nos interrogamos sobre o que afinal fizemos da vida e especialmente por aquela criança, se nos carimbos herdados e nos imprimidos há qualquer balanço que seja favorável às boas intenções de se ser pai, que em horas de dúvidas e de balanços hesita-se quanto aos factos e agarramo-nos demais à tábua das intenções.

Honestamente penso que sim. Eu e a mãe demos-lhe muito de bom. Não palpável ou medível, mas a criança que hoje se torna oficialmente um adulto vai robusta das nossas boas intenções, e desejo que ela consiga utilizar esse pecúlio íntimo para inverter o peso dos defeitos e dos erros herdados e assistidos, meus. Que se salve de, chegada a sua vez de passar testemunho aos seus, rogar por uma penitência como aquela que eu hoje penso necessitar, pela parte correspondente aos seus dezoito anos nos meus erros crónicos, esta incapacidade humana de se ser sempre correcto e justo mas que em mim roça o abuso, e teve momentos em que ultrapassou mesmo a linha da responsabilidade. (Faz Delete a essas partes, miúda, em favor a ti mesma…)

Vou ser magnífico para fechar fazendo-lhe honra, mais a honra ao empenho e amor da sua mãe nesta ‘construção’ de dezoito anos, e na boleia tento lavar-me eu um pouco que seja:

- Mundo, atenção! Este novo Cidadão com Direitos e Obrigações integrais e com tantos por estrear não é um número a somar, se é multidão será nela o rosto que o fotógrafo encontra, é digna de todas as ambições porque está equipada para conquistá-las e merecê-las com o melhor diploma entre todos, que nas cadeiras mais difíceis nunca falhou, nunca por nunca cabulou: sensibilidade e ternura, solidariedade e humildade. Das outras cadeiras não reza esta história, que a sua força de vontade tem tomado mais ou menos bem conta do assunto, e assim será. A minha, a nossa menina e que hoje vos entregamos, Mundo Adulto, é especial. Tratem-na bem, por favor!

Olho-te, Carla, e sinto que és um bom quinhão da minha dor pelos tais erros da vida, mas olho-te segunda vez e sinto, vejo-te como uma parte ainda maior da minha remição. Obrigado, meu amor


(de ontem, no meu Facebook)