sábado, 23 de outubro de 2010

ode ao desejo

acendo o cigarro das palavras difíceis

mas não me lembra nenhuma mais estranha que Mesopotâmia

(ou licor de angustura.)



a coreografia quando te visualizo não se vê,

mas vejo o vértice do desejo:

os caracóis do teu cabelo,

a minha saliva,

e tão perto como distante

a produção literária constante

do sofrido futuro dos impossíveis.



e não consigo pensar em nada mais distante

que Mesopotâmia

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

L'absinthe



alcoolizar-me com emoções e grafá-las nos meus pensamentos, faz-me putativo membro dum qualquer clube de poetas românticos, ou igual membro da populosa classe dos parvos letrados? hesito na camisa-de-forças mas não na gravata que se me ajeita: ilustre e ilustrada, colorida, um tudo nada espampanante. onde nunca os pingos de sentimentos que caiam e se leiam sejam tão anónimos como aquele tudo e tanto que me arde constantemente e assim em silêncios me alimenta, vida destilada com 90º de embriaguez pseudo-poética e um clássico resto em bafo de racionalidade. puta que pariu a métrica das realidades, venha outro copo à mesa que sou e serei sempre daquele álcool escrito um sedento!

(na imagem "L'absinthe", de Picasso. gamada na Net e já não sei onde)

Estado Social

‎Em 2020, quase metade da população activa em Portugal terá baixas qualificações (49,8%). Na Europa, em contrapartida, esse valor vai situar-se nos 19,5%.

isto explica alguma coisa? explica sim. explica a pouca-vergonha que tem sido a Educação neste país. Estado + famílias, culpas a repartir.
porém a realidade é a realidade. não se mandam as pessoas para o lixo, não se matam, não se escondem por baixo do tapete: existimos. desqualificados mas existimos. somos gente, temos famílias, nós somos o País. também somos o País.
um Estado que não olhe assim - mais a mais com culpas no cartório, mas nem era necessário o sentimento de culpa - é um Estado que falha a sua primeira missão: cuidar dos seus cidadãos. a este nível eu defendo o Estado Social.
atenue-se esta crise e a seguir desmonte-se o guarda-chuva social no que tem de pano a mais. hoje tem-o a menos, há varetas à vista e muita gente molhada. somos gente, não somos só números desqualificados.