domingo, 23 de março de 2014

Primavera


o tempo enevoou-se, e as pepitas de saudade que germinavam esperanças caem, ruem, pó és e ao pó voltarás.

ao pó e às collants. onde andam as mini-saias e os calçõezinhos, caramba? agora que isto estava a ficar tão bom...

leituras


depois duma sova de - sucessivamente - David Vann ("A ilha de Sukkwan"), Alessandro Baricco ("Castelos de raiva"), Lars Gustafsson ("A morte de um apicultor"), Stig Dagerman ("Jogos da noite"), e Flannery O'Connor ("O céu é dos violentos"), arfo, derreado, moído, necessito de piedade, sopinhas e pensos rápidos. dói-me a alma, o espelho, o cotovelo, e até a minha placidez hesita, tentada a ceder guarda por troca com um qualquer empreededorismo como hobby, certamente com riscos mais suaves do que estes mares tão encapelados. cheguei a ponderar dedicar-me de alma, coração e corpo à política nacional. estou que nem posso, como vêm. 

para reconfortar-me fui à caixa de prendas da Editorial Presença e tirei um biscoito: a dieta completa é impossível, sem alimento morre-se, o que era uma estupidez pois terei bem mais duma centena ainda por ler. chama-se "A última cartada" (escreveu-o Ben Mezrich), trata de golpadas em casinos, e segundo as loas da contra-capa até deu um filme. para dieta não deve ser mau. gosto de thrillers bem esgalhados, já lhe li três capítulos e promete diversão e mamar-se num ápice. sem dores, tipo sossego de fim-de-semana. um gajo não é de ferro e a tareia foi dura!...

VPV

aprecio-lhe a verve, elegante até a mandar à merda tudo e todos, o enciclopédico saber, arrogante, mas quem sabe como ele sabe acerca do Liberalismo e dos tempos da I República tem o direito de chapá-lo, nem que às vezes a trouxe-mouxe quando fala doutra coisa qualquer. nas suas elucubrações acerca dos "nossos dias" não se atém ao dito comum mui sapiente, lido e ouvido mil vezes: ousa. ousa errar sem medos, com a altivez suicida de quem não deve nada a ninguém e, mais, acredita piamente ser o indivíduo mais inteligente no seu prédio. na sua freguesia. em resumo, não é hipócrita. assume-se. mal ou bem assume-se. e - qualidade que nunca é demais evidenciar - ele e o abjecto politicamente correcto nem sequer são vizinhos. eu gosto disso. gosto dele. não me influencia: dá-me prazer. escreve bem de bem, ninguém lhe desconhece as famílias políticas ou sociais, ou ele as esconde, mas as suas leituras e análises são transversais, batem forte e feio em tudo que mexe. (dizer bem é mais difícil, se não impossível; mas isso já sabemos, e o seu mau-feitio até tem piada.)
isto tudo para dizer mais uma coisa: irritam-me os que recusam lê-lo por razões de hino e bandeira. de cor política. por palas de burrice, a tal cegueira ideológica. os que quando se olham ajeitam a farda, e só sabem marchar, marchar, marchar. talvez uma forma de vencerem o medo do apeio à ignorância que fica no fundo do copo quando se espreme um fruto já espremido e ralado pela História. e enchiam-se (bela metáfora) lendo-o. talvez lhes entrasse que afinal isto não é tudo ou preto ou branco.
por bom exemplo a sua crónica de ontem  no Público:
-----
A sociedade de mercado
"Já leu o livro “O que o dinheiro não pode comprar” (não sei se está traduzido em português)?
Se não leu, leia. O livro é de Michael J. Sandel, professor de Harvard e, segundo dizem, “o maior filósofo vivo”. A tese de Sandel é simples e coincide com o espírito do tempo: há valores que o mercado diminui ou perverte. Comecemos pelo caso mais simples. Se alguém compra um amigo, não fica em última análise com um amigo, porque a amizade não pode ser objecto de compra. Se alguém resolve seduzir um homem ou mulher com modelos de cartas que tirou da internet (de resto, uma velha invenção), falhará no momento em que a burla se tornar pública. E o mesmo se aplica aos pais que “compram” os filhos com condescendência e com dinheiro; ou com os políticos que pedem votos com promessas falsas. O mercado deturpa ou anula a intenção e faz com que ela falhe.
Outros casos menos nítidos. Saltar a “bicha” ou a fila, como hoje se diz, comprando bilhetes mais caros na candonga ou alugando à hora quem espere em lugar do próprio, enfraquece essencialmente o civismo de uma sociedade. O gosto por um cantor, imaginemos por Tony Carreira, não se deve medir pelos rendimentos de cada um. E o que não admira que se passe com Tony Carreira ou, por exemplo, com um jogo do Benfica, acaba por se tornar dramático se um dia se alargar às listas de espera da medicina privada ou da grande advocacia. Pior ainda: nada impede o incentivo, tão caro aos teóricos do mercado, de se introduzir em áreas até hoje intocáveis. Pagar a um adolescente 5 euros por livro que lê, não prejudica para toda a vida o prazer da leitura? Ou pagar a uma mulher para ter ou não ter filhos? Ou adquirir ao Estado, através da corrupção, privilégios que ninguém legalmente consegue?
Estes mercados, na verdade negros, talvez sejam eficientes no sentido económico da palavra, mas pouco a pouco eliminam qualquer senso moral no cidadão comum. Vender o nome não é melhor. Um benfiquista gostava que o Estádio da Luz se começasse a chamar Estádio da PT? Um lisboeta gostaria que a estação de metro do Chiado recebesse o nome de Samsung? E um portista que a Torre dos Clérigos se tornasse na Torre Volkswagen? E Portugal inteiro não se importaria se o governo começasse a vender o nome de escolas, monumentos, praças, ruas, mesmo uma cidade ou outra a marcas comerciais, como sucede na América? Sangel não é com certeza “o maior filósofo vivo”. Mas descreve a sociedade de mercado que se aproxima e que é, essa sim, um perfeito inferno."

quinta-feira, 13 de março de 2014

lidos

A ilha de Sukkwan, David Vann
O crime de Lord Arthur Saville e outros contos, Oscar Wilde
Um aprazível suicídio em grupo, Arto Paasilinna (em curso)

sábado, 8 de março de 2014

lidos

A morte de um apicultor, Lars Gustafsson
O Gerânio - contos dispersos, Flannery O'Connor
Castelos de raiva, Alessandro Baricco (em curso)

ilhas

porque somos ilhas mas acreditamos em arquipélagos. porque somos nada na névoa duma charneca, mas encontramos um pirilampo e a sua luz ilumina-nos menino, gaiato, travesso, a puxar as saias às raparigas porque elas gostam, como disse um que era poeta e mangusso, essa comum mistela que se verte romântica. porque envelhecer é também um sorrir suave, por acreditar no infindável porvir. porque sim. porque se escrevem versos, porque se catam musas e sonhos e nuvens com o afã de ilhas secas, perdidas de rimas que ainda - ainda, ainda, ainda! - não nos beijaram. porque no fim, no horizonte, há sempre uma mulher. sim, porque sim. ilhas, mas todos sorrimos porque acreditamos em arquipélagos, talvez dito ecos não soe mais do que é: saudades do menino travesso. e isso é bom, e isso se renasce é por vocês

sejam muito felizes no vosso dia, miúdas

segunda-feira, 3 de março de 2014

empreendedorismo

haja água, que pagamos a puta da dívida num instante!
«(...) Talvez houvesse também uma réstia de snobismo, um certo sentimento de superioridade, de entender melhor do que os outros o que tudo aquilo na realidade significava.
Mas era também outra coisa: era como que a nossa coesão interna. Saber mais que os outros é um bom elo de ligação.»

domingo, 2 de março de 2014

é que é mesmo NÃO AO AO'90!

ainda vamos a tempo de impedir este crime? não sei. há momentos em que desanimo nessa esperança. o que se passou no Parlamento foi muito mau. mas, desistir? não, não. uma guerra será pior, sim. a fome, o desemprego, a violência política, as dificuldades impostas e duvidando-se da sua utilidade, essas tragédias têm peso valorativo - e é tanto. mais nos tocam porque são presença no quotidiano, se não na nossa porta noutras que conhecemos, e algumas bem próximas. mas será por isso que se arriam bandeiras que é justo mantê-las erguidas? gritar por elas? defender o futuro numa causa em que chamá-la de 'menor' é palas e arrogância, cegueira ao amanhã depois de nós? e por vezes simplesmente pela defesa de castelinhos pessoais? não compreendo. não aceito. não desisto de achar que ainda vamos a tempo.

li esta parte da crónica de MST esta manhã, quando li o Expresso. gostei. o tema, claro, e a forma como expôs. procurei na edição online, mas como é habitual há conteúdos sem visualização gratuita, e este é um desses. felizmente dei com o trabalho de scaner e colagem feito por Francisco Belard. agradeço e trago-o para aqui. pedindo somente que leiam. gostem ou não do colunista/comentador/escritor MST, tantas vezes truculento, e outras mais polémico, que leiam. o leiam. temos sensatez para depois seguir o nosso caminho. não temos é o direito - acho; mas é que acho mesmo! - de empinar o nariz e ignorar os lados esboroados da nossa querida estrada. a nossa estrada que é comum e durará mais que os nossos passos a percorrê-la


(façam um esforço e tentem ler pela foto; a transcrição é omissa em talvez metade)


NOTA: o trabalho de scanner foi feito por João Roque Dias, e não por Francisco Bélard, como erradamente pensei. é que encontrei-o no seu mural do Facebook e deduzi assim. os créditos estão repostos.